"As Sete Estradinhas de Catete"

Chama-se "As Sete Estradinhas de Catete" e o autor, Paulo Bandeira Faria, é professor do ensino secundário em Valença e vive em Vigo. O livro (edições QuidNovi) é, ao mesmo tempo, um romance de iniciação e um retrato de um mundo irremediavelmente condenado a desaparecer. História de uma criança, o narrador, filho de um oficial da Força Aérea e de uma professora, nos derradeiros anos da colónia portuguesa de Angola, "As Sete Estradinhas de Catete" narra a perda da inocência num mundo onde a inocência nunca existiu (a não ser quando se confundia com parcialidade no olhar) e onde uma criança aprende a ver o que se cala, ao mesmo tempo que fala sobre o que vê. Como pano de fundo, o quotidiano dos portugueses das colónias, a sua vida umbilicalmente ligada a uma terra que lhes deu a possibilidade de serem o que não podiam ser na metrópole mas que nunca quiseram compreender na sua total dimensão: como aquela senhora para a qual África seria o paraíso se não tivesse nem melgas, nem pretos. A grande virtude de "As Sete Estradinhas de Catete" tem a ver com a capacidade do autor em nos levar pela mão até um mundo que sabemos perdido, definitivamente acabado: o último estertor de uma realidade condenada, habitada por gente que pressente o fim mas age como se aquela fosse eterna.
Três citações do livro:
"Sim, senhor capitão. Fosse eu outro e dizia-lhe: fico aqui o tempo que vocês conseguirem que eu fique. Mas eu não sou desses: cheguei aqui antes da guerra, fico depois dela, ou nela, tanto me faz. Este é um país pelo qual vale a pena morrer, sabe." (p.162)
"O empregado negro apedreja os corvos, mas eles regressam. Limpa os copos, mas as moscas voltam. Fecha os chapéus-de-sol, mas o vento mantém-se. Ali está tudo errado. Só falta a selva em redor comer este sítio, fazendo da piscina uma lagoa peçonhenta com animais venenosos." (p.280)
"O velho colono, dizem, enforcou-se na árvore debaixo da qual enterrara a mulher, que se serviu do tétano para morrer de saudade, picando-se nos espinhos das suas roseiras." (p.353)

el camino (quinta)

Copyright Rita Marques 2007

el camino (quarta)

Copyright Antonio Rodrigues 2007

el camino (terceira)

copyright Antonio Rodrigues 2007

Angola 2007

Copyright Rita Marques 2007

el camino (segunda)

Copyright Antonio Rodrigues 2007

o pó nunca mais será o mesmo

o gato sentado na poltrona
junto à janela
molhando com aspereza uma edição da "Utopia"
a mulher deixando-se escorrer
duas lágrimas abaixo
a luz baça da tarde na estante
onde falta o espanador de Nísea e o meu grito de
"nem pense em mexer nisso"
e ela só com "mas é preciso arrumar" e o meu
"quem disse que está dessarrumado"
o gato na secretária roendo as bolinhas de plástico da encomenda livreira
por abrir
a mulher caída na poltrona
de cabeça baixa na semi-escuridão da sala e os filhos
a caminho, no avião,
ele de Sacramento, ela de Londres, parece haver greve dos controladores em Heathrow
e os céus estão um caos
o gato no colo da mulher em pé junto à janela
os filhos bebendo café na mesa da cozinha
Nísea com o espanador pousado sobre as pernas
a cara sem Carnaval
olha a estante pensando que o pó nunca mais será o mesmo

el camino (primeira)

copyright Antonio Rodrigues 2007

Foi um prazer


Como nem as experiências, nem as amizades se medem ao tempo, só tenho a dizer obrigado e foi um prazer às pessoas com quem trabalhei na Agência Lusa em Angola.