"As Sete Estradinhas de Catete"

Chama-se "As Sete Estradinhas de Catete" e o autor, Paulo Bandeira Faria, é professor do ensino secundário em Valença e vive em Vigo. O livro (edições QuidNovi) é, ao mesmo tempo, um romance de iniciação e um retrato de um mundo irremediavelmente condenado a desaparecer. História de uma criança, o narrador, filho de um oficial da Força Aérea e de uma professora, nos derradeiros anos da colónia portuguesa de Angola, "As Sete Estradinhas de Catete" narra a perda da inocência num mundo onde a inocência nunca existiu (a não ser quando se confundia com parcialidade no olhar) e onde uma criança aprende a ver o que se cala, ao mesmo tempo que fala sobre o que vê. Como pano de fundo, o quotidiano dos portugueses das colónias, a sua vida umbilicalmente ligada a uma terra que lhes deu a possibilidade de serem o que não podiam ser na metrópole mas que nunca quiseram compreender na sua total dimensão: como aquela senhora para a qual África seria o paraíso se não tivesse nem melgas, nem pretos. A grande virtude de "As Sete Estradinhas de Catete" tem a ver com a capacidade do autor em nos levar pela mão até um mundo que sabemos perdido, definitivamente acabado: o último estertor de uma realidade condenada, habitada por gente que pressente o fim mas age como se aquela fosse eterna.
Três citações do livro:
"Sim, senhor capitão. Fosse eu outro e dizia-lhe: fico aqui o tempo que vocês conseguirem que eu fique. Mas eu não sou desses: cheguei aqui antes da guerra, fico depois dela, ou nela, tanto me faz. Este é um país pelo qual vale a pena morrer, sabe." (p.162)
"O empregado negro apedreja os corvos, mas eles regressam. Limpa os copos, mas as moscas voltam. Fecha os chapéus-de-sol, mas o vento mantém-se. Ali está tudo errado. Só falta a selva em redor comer este sítio, fazendo da piscina uma lagoa peçonhenta com animais venenosos." (p.280)
"O velho colono, dizem, enforcou-se na árvore debaixo da qual enterrara a mulher, que se serviu do tétano para morrer de saudade, picando-se nos espinhos das suas roseiras." (p.353)

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