PSD escolhe entre dois perdedores

A actual disputa pela liderança do PSD é uma espécie de luta fratricida por um carro sem rodas que ambos candidatos garantem pretender levar muito longe, por estradas bordoadas de paisagens bucólicas. Tanto Luís Filipe Menezes como Luís Marques Mendes esgrimem argumentos aparentemente profundos, ideias aparentemente substanciais, críticas aparentemente contundentes, mas o carro que ambos pretendem conduzir continua parado e aí vai ficar até que o tempo mude e haja umas rodas de prémio numas novas legislativas. A evolução da maior parte das sociedades democráticas tem demonstrado um dos grandes defeitos da democracia como sistema político, a tendência para diluir as diferenças ideológicas entre candidatos e entre partidos, resumindo a alternância política a um jogo de cansaço na relação entre a maioria e o partido que elegeu para governar a determinada altura. A política tornou-se ciclotímica: as mudanças periódicas de humor e de sentimentos do eleitorado orientam o sentido de voto que alterna maioritariamente entre os dois principais partidos do centro num jogo de castigo/recompensa psicológico que pouco tem a ver com escolhas de programas políticos. No que diz respeito à Europa comunitária, a tendência é ainda mais acentuada devido ao corpete económico imposto a cada um dos governos dos 27, mais apertado ainda para os pequenos países de economias mais débeis. Posto isto, o que temos dentro do PSD é a disputa de dois galos por um poleiro que irá permanecer à sombra de José Sócrates esta e outra legislatura (a não ser que ao primeiro-ministro lhe desse para se suicidar politicamente até ao fim deste mandato, o que parece pouco provável). Ou seja, temos a luta entre dois perdedores anunciados que procuram através da estridência parecer aquilo que não são: verdadeiras alternativas a Sócrates. É, por isso, que ninguém verdadeiramente com influência dentro do partido se chegou à frente para acentuar a imagem de cada um dos candidatos e é por isso que Marques Mendes irá ganhar as eleições de domingo. Para os barões do PSD, Marques Mendes é o líder ideal para queimar na oposição estéril a Sócrates, até que o balão deste se esvazie e o eleitorado, de humor cambiado, se preste a entregar de novo o governo aos sociais-democratas, nessa altura finalmente liderados por, quem sabe, Manuela Ferreira Leite.

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